Não é de hoje que
se tem condutas e técnicas não científicas que embasam atitudes de pessoas
leigas ao conhecimento formal, a agirem de forma a tratar algum tipo de
enfermidade. Nisso, as Práticas Curativas bem sabem, agora, se todas podem ou
não ser realizadas é outra coisa. Mesmo porque, para o homem antigo era
preferível sanar sua dor, mesmo que seguindo crenças místicas a esperar por um
apanhado propedêutico para analisar a origem de suas debilidades. Por isso,
ainda para muitos indivíduos ir ao médico é perda de tempo já que tem “outras
maneiras” de resolver suas questões. Não tão longe desse assunto estão os temas
como transfusões de sangue ou mesmo a quase morte à beira do leito, já que seus
defensores opinam independente da construção científica.
Há poucos dias
estava vendo na internet um daqueles casos clássicos de TV que todos já viram
ou ouviram falar sobre os Testemunhas de Jeová. O filho de um casal se
acidentou com sua moto, sofrendo perda considerável de sangue. No hospital de
emergências, foi encaminhado para o atendimento. O médico plantonista, sem se
ater a religião do paciente, conduziu o rapaz à reposição de sangue – posteriormente
– já que perdera bastante. Na madrugada, com a família avisada sobre o
procedimento, houve um intenso tumultuo que provocou a vinda da polícia. A
equipe de atendimento seria posteriormente processada pelos entes do sujeito. O
que me levou a questionar: devemos dar preferência a Vida ou a Morte nesse
caso?
Todos
concordariam comigo que a preferência seria a Vida. Uma escolha óbvia, a
princípio. Mas, a preferência também é a Vida quando se fala em um paciente à
beira da Morte? Mesmo que tão jovem? De certo, não (?). Claro que são condutas
diferentes já que há chance de vida em uma e na outra possibilidade de prolongamento
dela. O Conselho Médico Geral de Londres estabelece que ainda que os médicos
partam da premissa que a vida deve ser prolongada, não devem perseguir esse
objetivo a qualquer preço. Isto é, o bom-senso mais do que reina em uma
transfusão, um desligamento de aparelhos ou algo do tipo. Situações que nos
fazem pensar no óbvio que não é tão óbvio para alguns.
Nesse sentido,
vale perceber como os responsáveis por tal decisão têm de levar em consideração
os moldes da sociedade. "Não vale somente dar o alívio ao
paciente"... de forma a (re)colocar ele em um patamar que pondere sua
fragilidade enquanto humano... de qualquer modo, uma gama de termos que
insinuam o âmbito juridíco, religioso e médico estão entrelaçados. A pessoa tem
a autonomia de escolher o bem para si ou não, e é influenciada nesse aspecto
pelo meio social. Ou seja, família, Igreja, amigos carregam em si um forte
apelo intimista de vida. Assim, até que ponto a Medicina deve trabalhar em si
mesma para cooperar com a vida? Quando essas perguntas começam a surgir, já não
estamos mais no quesito biológico mas sim filosófico, religioso, juridíco.
É complicado
atenuar esse tema já que ele faz parte da rotina médica, pois atinge em cheio o
consenso sobre o que fazer para não prejudicar o paciente. Se o médico não pode
agir de modo corriqueiro o "termo de consentimento livre e
esclarecido" é tido como ferramenta para que o profissional se abstenha de
futuras pendengas nos tribunais. Muitas pessoas se deixam levar por uma crença
que movem suas vidas num caminho desconexo com o seu bem-estar, sejam elas como
o simples ato de tomar um remédio ou recusar algum tratamento. Creio eu que Deus
jamais gostaria que sofrêssemos pela interpretação errada de seus dizeres.
Mesmo porque, que Deus seria esse que daria o dom à Medicina para curar ou
mesmo diminuir a penúria do enfermo levando-o tão jovem ou fazendo-o morrer dolorosamente
pelo capricho de “sua lei”.
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