"Valorizando pontos de vista diferentes"

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segunda-feira, 13 de abril de 2015

A INTERFERÊNCIA DE CRENÇAS NA CONDUTA MÉDICA


Não é de hoje que se tem condutas e técnicas não científicas que embasam atitudes de pessoas leigas ao conhecimento formal, a agirem de forma a tratar algum tipo de enfermidade. Nisso, as Práticas Curativas bem sabem, agora, se todas podem ou não ser realizadas é outra coisa. Mesmo porque, para o homem antigo era preferível sanar sua dor, mesmo que seguindo crenças místicas a esperar por um apanhado propedêutico para analisar a origem de suas debilidades. Por isso, ainda para muitos indivíduos ir ao médico é perda de tempo já que tem “outras maneiras” de resolver suas questões. Não tão longe desse assunto estão os temas como transfusões de sangue ou mesmo a quase morte à beira do leito, já que seus defensores opinam independente da construção científica.

Há poucos dias estava vendo na internet um daqueles casos clássicos de TV que todos já viram ou ouviram falar sobre os Testemunhas de Jeová. O filho de um casal se acidentou com sua moto, sofrendo perda considerável de sangue. No hospital de emergências, foi encaminhado para o atendimento. O médico plantonista, sem se ater a religião do paciente, conduziu o rapaz à reposição de sangue – posteriormente – já que perdera bastante. Na madrugada, com a família avisada sobre o procedimento, houve um intenso tumultuo que provocou a vinda da polícia. A equipe de atendimento seria posteriormente processada pelos entes do sujeito. O que me levou a questionar: devemos dar preferência a Vida ou a Morte nesse caso?

Todos concordariam comigo que a preferência seria a Vida. Uma escolha óbvia, a princípio. Mas, a preferência também é a Vida quando se fala em um paciente à beira da Morte? Mesmo que tão jovem? De certo, não (?). Claro que são condutas diferentes já que há chance de vida em uma e na outra possibilidade de prolongamento dela. O Conselho Médico Geral de Londres estabelece que ainda que os médicos partam da premissa que a vida deve ser prolongada, não devem perseguir esse objetivo a qualquer preço. Isto é, o bom-senso mais do que reina em uma transfusão, um desligamento de aparelhos ou algo do tipo. Situações que nos fazem pensar no óbvio que não é tão óbvio para alguns.

Nesse sentido, vale perceber como os responsáveis por tal decisão têm de levar em consideração os moldes da sociedade. "Não vale somente dar o alívio ao paciente"... de forma a (re)colocar ele em um patamar que pondere sua fragilidade enquanto humano... de qualquer modo, uma gama de termos que insinuam o âmbito juridíco, religioso e médico estão entrelaçados. A pessoa tem a autonomia de escolher o bem para si ou não, e é influenciada nesse aspecto pelo meio social. Ou seja, família, Igreja, amigos carregam em si um forte apelo intimista de vida. Assim, até que ponto a Medicina deve trabalhar em si mesma para cooperar com a vida? Quando essas perguntas começam a surgir, já não estamos mais no quesito biológico mas sim filosófico, religioso, juridíco.

É complicado atenuar esse tema já que ele faz parte da rotina médica, pois atinge em cheio o consenso sobre o que fazer para não prejudicar o paciente. Se o médico não pode agir de modo corriqueiro o "termo de consentimento livre e esclarecido" é tido como ferramenta para que o profissional se abstenha de futuras pendengas nos tribunais. Muitas pessoas se deixam levar por uma crença que movem suas vidas num caminho desconexo com o seu bem-estar, sejam elas como o simples ato de tomar um remédio ou recusar algum tratamento. Creio eu que Deus jamais gostaria que sofrêssemos pela interpretação errada de seus dizeres. Mesmo porque, que Deus seria esse que daria o dom à Medicina para curar ou mesmo diminuir a penúria do enfermo levando-o tão jovem ou fazendo-o morrer dolorosamente pelo capricho de “sua lei”.

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